O AMOR E O CASAMENTO
Certa vez num país distante um Rei apaixonou-se por uma mulher. Essa mulher estava apaixonada por outro — por um escravo, um escravo do próprio Rei. E isso era muito difícil para o Rei entender: que a mulher não lhe desse atenção, a ele, o Rei — e quisesse o escravo que não era nada! O rei podia matá-lo imediatamente, ele era apenas uma poeira! Mas foi assim que aconteceu. A vida é misteriosa. Não se pode ser matemático em relação a ela. Podemos ser um rei, mas não podemos forçar o amor. O outro pode ser um escravo, mas o amor fará dele um rei. A vida é misteriosa. Não é aritmética, não tem relação econômica.
O rei tentou muito, mas quanto mais ele fazia maior era o fracasso. Ficou então muito zangado. Mas estava realmente apaixonado pela mulher e por isso temia matar o escravo. Podia tê-lo matado: bastava uma palavra. Mas temia que a mulher ficasse ferida. E ele realmente a amava, assim isso se tornou um problema — o que fazer? Ela poderia sentir-se ferida, poderia se suicidar — ela estava tão louca.
O rei, então, reuniu a sua guarda pessoal e foi consultar um velho mestre que habitava em seu país. O sábio disse: "O que você tem feito está errado". Pois o Rei tentava de todas as maneiras mantê-los separados.
Disse:
"Isso está errado. Quanto mais os mantiver separados, mais eles quererão estar juntos. Deíxe-os juntos e logo tudo estará acabado. E mantenha-os de tal maneira que não possam se separar".
O rei perguntou:
"Como faço isso?"
Ele disse:
"Prenda os dois juntos. Force-os a fazerem amor, acorrente-os, amarre-os um ao outro. E não permita que se separem".
Isso foi feito.
Foram acorrentados num pilar, nus, fazendo amor. Se alguém estiver amarrado a uma mulher ou a um homem, por quanto tempo poderá amar essa pessoa? É por isso que o amor desaparece em certos casamentos. Estão acorrentados, estão no cativeiro; não podem fugir.
A experiência foi feita.
Depois de muitas horas os dois começaram a se odiar. Começaram a sujar os corpos um do outro — porque é impossível esperar; os intestinos começaram a funcionar, a urina precisa ser expelida da bexiga. O que fazer? Eles se contiveram durante algumas horas. Sentiram que não seria bom. Mas depois de um certo ponto não se pode fazer nada
Os intestinos funcionaram, as bexigas esvaziaram, eles sujaram um ao outro, e se odiaram ainda mais. Fecharam os olhos. Não queriam se ver. E isso durante quarenta e oito horas — uma maratona! Depois de quarenta e oito horas foram soltos.
Conta-se que eles nunca mais viram um ao outro. Fugiram no momento em que foram libertados do palácio. Fugiram em direções diferentes. Tudo ficou tão feio.
Os casamentos e o amor podem ficar feios quando seguem esse princípio.
É preciso que haja um ritmo de aproximação e afastamento, de estar junto e estar só. Se pudermos nos aproximar livremente e afastar-no outra vez, a fome e a saciedade serão criadas. Coma e depois jejue! A palavra "desjejum" referente à alimentação matinal é boa. Significa quebrar o jejum; jejuamos durante a noite; se quisermos saborear que comemos, precisamos jejuar. Essa é a harmonia oculta da polaridade.
O amor já inspirou canções, obras de arte, grandes façanhas, realizações e até o curso da história. O amor é o elo aglutinador dos seres humanos. Há muitas definições para a palavra amor, quase todas inadequadas. Nos dicionários, o significado da palavra oscila entre o gosto puro e desejo lascivo. Talvez tenha mesmo se originado dessas imediações!
Para entender o que o amor é, devemos entender também o que amor não é.
Amor não é ódio, violência, ambição ou competição. Na, é também paixão ou ciúme, obsessão.
Paixão diz respeito a preferências externas e é unicamente uma forma de conquista. É um estado de neurose que pode ser preenchido pela conquista efêmera, mas que logo depois se transforma em decepção.
Tomemos, por exemplo, uma mulher neurótica. Geralmente casa-se com um homem pela elegância e distinção deste, mas em seguida começa a reclamar com frases do tipo você só pensa em sua aparência, nada mais!"
Quando se casa com a inteligência do marido, em seguida reclama porque o marido é um sabe-tudo e ela uma sabe-nada.
Se o motivo é firmeza e sensibilidade, esses traços de caráter logo se tornam intoleráveis.
Se o enlace é cometido por dinheiro, então o futuro será maçante porque o assunto do dia-a-dia é "negócios".
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